Semiópticas - O tesão de Cristiano Ronaldo
O partido de Sá Carneiro está a desagregar-se perigosamen-te, mas que interessa isso perante o tesão (universal) de Cristiano Ronaldo?
Num país de tanga e de tesos, não deixa de ser curioso que o tesão de Cristiano Ronaldo preencha parte significativa da agenda mediática. Não deixa de ser irónico que, numa altura em que se discute a razão pela qual os lisboetas não quiseram maioritariamente votar (abstenção acima dos 60%), o país se entretenha a contar as conquistas amorosas do ‘puto-maravilha’, muito mais maravilhoso (para a gulodice) a partir do momento em que se conhecem os seus proventos de natureza financeira. Estamos em plena ‘silly-season’, bem sei, mas o desinteresse que os portugueses estão a revelar pela política e pelos seus protagonistas faz com que, no auge dessa indiferença, a curiosidade – essa ‘esperança do espírito’ – tome lugar, qual ‘big brother’, na primeira fila da devassa da vida pública das ‘estrelas’. E Saramago, não jogando com os pés, é quem paga. Há uma indústria que vive disso, dos rumores e das mentiras, das imagens a sugerir traições ou enlaces que só existem no imaginário de certos incautos, mas provavelmente todos merecemos este ‘circo de sentimentos’ e de múltiplas ostentações, porque já ninguém parece importar-se com a crise, tão irreversível ela parece ser.Sinceramente, não percebo qual o interesse de saber se Cristiano Ronanldo engata muito ou pouco e quem são as meninas disponíveis para se aproveitarem do dinheiro dele, sobretudo quando o Mundo se debate com questões sérias, designadamente as consequências do sobreaquecimento do globo terráqueo.O discurso dos políticos está gasto e os eleitores já acham que não vale a pena votar – e lá terão as suas razões. Estão fartos de promessas não cumpridas; de palavras e mais palavras, que passaram a valer muito pouco. Alguns senhores do PSD parecem abutres. Menezes, sequioso de poder e os sequazes do ‘santanismo’, não esperaram um segundo. Querem sobretudo ‘vingança’. Querem a cabeça de Marques Mendes. Não lhe perdoam o corte com o ‘clientelismo partidário’. O partido de Sá Carneiro transformou-se num grupelho de vaidosos rancorosos e sobra pouca gente capaz de o ‘refundar’. Não admira que o tesão de Cristiano Ronaldo e os cozinhados do ‘cunhado’ estejam na ordem do dia.
Rui Santos (jornalista / ruimmsantos@netcabo.pt)
Fonte: Correio da Manhã
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